Hoje a palavra é da nossa parceira e especialista no assunto.
A atuação da fonoaudiologia
“Toda equipe de saúde tem um papel muito importante nesse atual contexto de pandemia. Muitos profissionais envolvidos com diversas atuações e intervenções somam-se a um único objetivo: salvar vidas.
Posso dizer que todos os serviços de saúde sofreram mudanças na atuação e no protocolo de atendimento durante e após a manifestação do novo vírus SARS-CoV-2. Isso interferiu diretamente no processo de reabilitação fonoaudiológica dos casos confirmados e suspeitos para COVID-19.
A atuação da fonoaudiologia permeia desde as orientações e monitoramento aos pacientes sintomáticos leves, aos casos em ambiente hospitalar, dentro da Unidade de Terapia Intensiva. Os pacientes que evoluem com um quadro mais grave da doença, podem apresentar a necessidade de intubação, podendo prolongar o tempo da ventilação mecânica ( < 48 horas).
Assim, com a retirada da intubação (extubação), alguns pacientes podem ter lesões laríngeas e evoluírem com disfonia (rouquidão) e distúrbio da deglutição chamado, disfagia orofaríngea. Nesse último caso, a probabilidade para engasgos é alta, e a coordenação da deglutição e respiração encontra-se alterada.
Assim, o auxílio de um fonoaudiólogo poderá reduzir o risco de broncoaspiração e readaptar a alimentação por via oral, até que o paciente consiga se alimentar com segurança, diminuindo agravos respiratórios.
Adaptações do profissional que ampliam a forma de ajudar o paciente
Atualmente, devido ao momento pandêmico, novas ações foram adotadas para os casos mais leves da doença, a partir da escuta profissional por monitoramento telefônico. Dessa forma, realiza-se o monitoramento dos sintomas e manutenção das orientações médicas receitadas, promovendo acolhimento e pertencimento ao paciente que se encontra isolado dos seus familiares.
É interessante observar que apesar dos quadros específicos de contaminação com COVID-19, outros pacientes não confirmados para SARS-CoV-2, necessitam manter suas consultas de reabilitação nas áreas de voz, audição, fala, linguagem e motricidade oral.
Diante desse novo desafio, temos tentado adaptar as terapias e protocolos para darmos continuidade a reabilitação das áreas da comunicação, visto que, o processo de terapia exige uma alta produção de saliva, caracterizado pelos exercícios e intervenções da avaliação fonoaudiológica.
Apesar da utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), conforme instrução dos órgãos normativos e recomendação CFFa nº19/2020, tenho observado o maior uso do teleatendimento no processo de reabilitação em fonoaudiologia. Isso tem sido uma grande saída para continuidade do tratamento e diminuição da exposição aos fatores de risco da COVID-19.
Muitos estudos mostram a eficiência do teleatendimento, mas ainda é muito recente a nova forma de atuação, o que exige de cada profissional, estudo e avaliação de cada caso. A realidade é que uma nova forma de atuação surge e devemos nos adaptar. E isso abrange não só a prática, mas a formação acadêmica, com inclusão de novos conteúdos para essa nova modalidade de atendimento.
Um recente artigo publicado no Journal of Voice, tem o objetivo de promover a segurança eficaz para fonoaudiólogos e foniatras através de orientações e práticas clínicas nesse contexto de pandemia.
Vale enfatizar que a prevenção dos distúrbios da comunicação deve ser realizada e potencializada com o objetivo de sanar e reduzir a necessidade de intervenção terapêutica.
Assim, a prevenção em fonoaudiologia, nas áreas de voz, motricidade oral, audição e linguagem, promove uma diminuição dos casos que poderiam necessitar de reabilitação terapêutica, o que resulta na diminuição da exposição ao COVID-19.
Apesar da necessidade de intervenção dos casos graves, precisamos resgatar novas ações de prevenção e promoção à saúde fonoaudiológica. Não necessitamos apenas tratar os problemas, podemos também prevenir. Pois nessa nova perspectiva de pandemia, valorizar o “simples” será uma grande saída para promover saúde e preservar vidas.”
Larissa Borges é fonoaudióloga e atua no serviço público (SUS). Ela é uma de nossas colunistas no FOCO SAÚDE. Fique por dentro dos conteúdos dos nossos especialistas e deixe aqui o seu comentário!
Referências
*https://www.fonoaudiologia.org.br/o-fonoaudiologo-no-combate-a-covid-19/
**Terapia Vocal No Contexto Da Pandemia Do Covid-19; Orientações Para A Pratica Clínica, Journal of Voice, 2020.